Olá amados, tudo bom? Continuando nossa série sobre brasileiros pelo mundo hoje vamos conhecer a Silvia, que trabalha no Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Oslo.
Ela é responsável pelas publicações no Facebook, Twitter, Youtube e informativo da Embaixada, além de cuidar da parte de eventos culturais. É o elo entre a Embaixada e o CCBN – Conselho de Cidadão Brasileiros na Noruega e, como sou uma das conselheiras, é ela que sempre nos recebe, como se fosse nossa anfitriã nos dias das nossas reuniões.
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Fiz o convite para Silvia contar a sua história e qual foi a minha surpresa quando, pelas respostas, percebi que ela tem uma grande bagagem e experiência para passar para quem resolve morar aqui na Noruega, como também em outros países!
Ela escreveu o livro “Sabedoria de Sofia”, que tem informações de como viver na Noruega. E depois desse artigo, se ela aceitar é claro, faremos um artigo com ela enfatizando estes importantes conhecimentos. Imagino agora se quando eu cheguei aqui e tivesse lido o livro o quão mais fácil teria sido, né?
Ela tem aqui na Noruega o livro em português e norueguês para vender. No Brasil pode ser comprado no site da Amazon.
Vamos para a entrevista?
BT: Silvia, conte-nos sua história. Como você veio morar na Noruega?
Nasci no Brasil, em 1964. Meus pais se divorciaram quando eu tinha 10 anos. Sempre estudei em escola pública. Comecei a trabalhar no Banco Real, aos 14 anos, mas antes, desde os 10 anos, já ajudava minha mãe a vender os salgadinhos que ela fazia. Eu ia de porta em porta e em frente das fábricas… Minha mãe faleceu quando eu tinha 21 anos. Terminei a faculdade aos 22 e meu último trabalho no Brasil foi como analista de sistemas, antes de sair pela primeira vez do país.
Eu e meu namorado saímos do Brasil em abril de 1988 para estudar 1 ano na Inglaterra e aprimorar o nosso inglês. Eu tinha 23 anos.
Na Inglaterra, estudei inglês e fiz curso de especialização na Universidade de Westminster, na área de informática.
Para custear os meus estudos, trabalhei como camareira, garçonete e balconista numa cantina. Depois, em 1989, eu e meu namorado nos casamos.
Após terminar meus estudos procurei trabalho na minha área, informática, e comecei a trabalhar como analista de sistemas e programadora.
Nunca senti qualquer tipo de discriminação na Inglaterra. Trabalhei com estrangeiros e ingleses, e sempre me dei bem com todos.
Compramos uma casa em 1989 e tivemos 2 crianças. O meu filho nasceu em 1993 e a minha filha nasceu em 1994.
Quando fomos para a Inglaterra, a nossa intenção era ficar apenas 1 ano. Acabamos por 8.
Apesar de adorar viver na Inglaterra, pois me adaptei super bem, em 1996 conversei com meu marido e disse que queria voltar ao Brasil. As minhas razões: estava com duas crianças pequenas, não tinha minha família por perto e, além de trabalhar fora, eu fazia todo o trabalho doméstico e cuidava sozinha das crianças. O meu marido tinha a mentalidade típica de homem de antigamente, onde era a minha obrigação fazer todas as atividades domésticas, mas ele não queria que eu parasse de trabalhar. Eu estava sempre exausta.
Sempre vivi na Inglaterra, sabendo que eu não iria ficar lá o resto da vida. Eu sabia que iria voltar para o Brasil.
Chegando no Brasil, meu marido não conseguiu trabalho fácil, apesar de ter feito pós-graduação na Inglaterra. Eu comecei a dar aulas de inglês. Tive muitos alunos e ganhava bem dando aulas. As crianças começaram no jardim da infância e eu tinha uma auxiliar em casa para me ajudar nas tarefas domésticas.
Em janeiro de 1998 meu marido me informou que ele tinha aceitado uma oferta de trabalho na Noruega. Ele disse que teríamos uma vida ainda melhor lá pois ele iria ganhar muito bem e eu não teria que trabalhar, ficaria em casa cuidando das crianças.
Eu estava bem no Brasil, tinha meu trabalho, dando aulas de inglês, meu apartamento novinho, a minha família por perto, uma auxiliar em casa… Tudo estava bem, mas, na minha cabeça, o natural seria eu acompanhar meu marido.
Chegamos na Noruega em maio de 1998. Ele começou a trabalhar e eu comecei a estudar norueguês. Meus filhos iam para a escola internacional em Bekkestua.
Não demorou muito para meu marido dizer que eu tinha que procurar um emprego, pois apesar dele ganhar bem, a Noruega era muito cara.
Comecei a trabalhar na Embaixada de Portugal em 1999. Meus filhos começaram então na escola norueguesa. Em 2006 me divorciei do meu marido e em 2008 comecei a trabalhar na Embaixada do Brasil, onde estou até hoje
BT: Foi difícil sua adaptação aqui na Noruega??
Sim. Foi muito difícil minha adaptação na Noruega. Eu sou fluente em inglês e isso dificultou para que eu aprendesse norueguês, pois todos conversavam comigo em inglês. Em casa falava português o tempo todo com as crianças e meu ex-marido.
Quando cheguei na Noruega, em 1998, não tinha muita diversidade na alimentação. Um contraste grande comparando com a Inglaterra e Brasil. Aos poucos, produtos mais diversificados foram colocados no supermercado. Já no início, quando eu queria algo mais brasileiro, eu ia nas lojas de imigrantes.
No ano em que cheguei aqui, em 1998, eu pedi para uma pessoa que conheci na Embaixada do Brasil para convidar todas as brasileiras que ela conhecia, com criança, para a festa de aniversário dos meus filhos.
Vieram várias brasileiras, e dali surgiram amizades que tenho até hoje. Nessa festinha, as brasileiras me deram muitas dicas, e uma delas me contou que havia discriminação na Noruega.
Nos primeiros anos aqui na Noruega, eu fiz questão de me aproximar de norueguesas. Convidava para virem tomar café na minha casa, mas nunca recebi convite para ir à casa delas. Sempre tomei a iniciativa de cumprimentar a vizinhança. Mas, se eu não tomasse a iniciativa, o contrário não acontecia.
Com o tempo, comecei a me isolar. Já não convidava mais para virem a minha casa e não cumprimentava a vizinhança. Passei a viver no meu mundo. Me acostumei.
Porém, em 2006, após o meu divórcio, eu sabia que iria ficar na Noruega para sempre, pois o pai dos meus filhos não queria voltar para o Brasil e eu não iria voltar com as crianças e as afastar do pai. Foi nesse instante que me conscientizei de que se eu fosse viver para sempre aqui, eu teria que aprender mais do idioma e da cultura norueguesa.
Em 2014 conheci meu atual marido. Desde então, aprendi muito mais sobre essas coisas.
BT: Quais os principais pontos positivos e negativos de morar na Noruega?
Existem muitos pontos positivos em viver na Noruega. É um país com pouca poluição no ar e limpo. A natureza é linda.
A segurança aqui é excelente. Não tenho medo de sair na rua em qualquer horário.
As pessoas respeitam o seu espaço. As regras são seguidas.
Entretanto, não sou muito amiga do frio. Isto é, quando a temperatura fica abaixo de zero. Para mim, esse é o lado ruim da Noruega. Acho a neve linda, mas não gosto de andar no gelo. Adoro a primavera, tudo fica florido.
BT: Você vê alguma vantagem de criar seus filhos aqui?
Após estar vivendo na Noruega por apenas 3 meses, pedi ao meu ex-marido, na época, para voltarmos para o Brasil. Simplesmente porque eu tinha aprendido na escola de norueguês que aqui as crianças, quando completam 16 anos, tem permissão para trazer o/a namorado/a para dentro de casa e dormirem juntos. Lembro que na época fiquei morrendo de medo disso acontecer! Hoje compreendo e aceito.
A nossa cultura, é diferente em muitos aspectos da cultura norueguesa, portanto, para criarmos os filhos na Noruega temos que aprender a cultura norueguesa muito bem, e nos adaptar a ela.
Os meus filhos, que agora já são adultos, vivem em seus apartamentos. Ao contrário do Brasil, em que os filhos saem de casa para se casar, aqui eles saem assim que podem pagar seu aluguel.
Além disso, a escola pública é excelente e todo material escolar é fornecido pela escola.
As crianças podem ir sozinhas, a pé, para a escola e até completarem 16 anos o serviços médicos e odontológicos são gratuitos.
BT: Quais seus conselhos para a adaptação ser mais rápida quando se muda de país?
O primeiro passo para se adaptar a qualquer país é aprender a língua local.
A IMDi publicou em norueguês o “Ny i Norge”, e também em inglês New in Norway.
Nesse livro você encontra as regras básicas para viver bem na Noruega. Você aprende muito sobre a cultura norueguesa também, que é o segundo passo para se adaptar bem na Noruega.
E o mais importante é: chegar na Noruega de corpo e alma. Isto é, integrar-se. Manter as relações com as pessoas que deixou no Brasil e preservar sua cultura, mas olhar a Noruega como sua nova casa. É importante não fazer comparações com o Brasil.
BT: Você tem contato social com brasileiros? Isso facilita ou dificulta a adaptação?
Não tenho contato social com brasileiras/os, em minha vida privada. Conheço muitas brasileiras, mas não vou na casa delas e elas não vem na minha (a não ser que eu tenha convidado para um jantar).
Acredito que no início seja importante manter-se afastada/o de brasileiras/os. Simplesmente para que a pessoa possa ter suas experiências e construir sua própria visão do que é a Noruega. Quando se faz amizade com brasileiro/as, elas/eles despejam um monte de ideias naquela/e que acabou de chegar. Portanto, aquele que chegou perde a possibilidade de construir sua própria visão, ficando com ideias preconcebidas da realidade do que é viver na Noruega.
Além disso, existe muita informação na página da Embaixada do Brasil para os brasileiros recém chegados. Recomendo muito ler!
BT: Você voltaria a morar no Brasil? Sim ou não? Qual a razão?
Não. Meus filhos vivem aqui e eu não gostaria de viver longe deles. Além do que, aqui na Noruega, uma pessoa idosa tem uma velhice digna.
BT: Já passou por alguma situação de preconceito por ser brasileira ou estrangeira?
Sim. Várias situações. Vou citar a última: a minha vizinha nunca conversa comigo, apenas com meu marido. Eu posso estar ao lado dele, ela fala diretamente com ele, como se eu não estivesse ali.
BT: Qual o tipo de trabalho a Embaixada desenvolve junto ao grupo de brasileiros, além da parte oficial que existe em todo o mundo, como fazer passaportes, título de eleitor,etc…
A Embaixada incentiva a participação da comunidade no CCBN, convidando para participar das reuniões, por exemplo. Também divulgamos os eventos da comunidade.
Além de divulgar os eventos da comunidade, damos apoio institucional e logístico em eventos da comunidade na Sala da Cultura Brasileira da Embaixada do Brasil em Oslo.
Promovemos palestras para a comunidade, com advogados, especialistas e outros, com a intenção de esclarecer dúvidas da comunidade brasileira e fornecer informação para adaptação cultural na Noruega.
Veja aqui mais informações referente os eventos culturais:
A Embaixada também elabora cartilhas informativas, além de fazer a edição/desenho gráfico de todas as cartilhas fornecidas pelo CCBN.
Foto, eu sentada no chão, com o Camaretas laranjeiras, evento realizado na Sala da Cultura Brasileira da Embaixada do Brasil em Oslo.
Foto eu com Josi, e o Duo Sagawa Galvão, evento realizado na Sala da Cultura Brasileira da Embaixada do Brasil em Oslo.
Toda a comunidade é bem vinda para participar dos eventos na Sala da Cultura brasileira da Embaixada do Brasil em Oslo.
BT: Tenho lido que existe muita violência contra a mulher em determinados grupos aqui. Você tem dados oficiais de quantas brasileiras são agredidas anualmente? Existe algum tipo de ajuda por parte da Embaixada para essas mulheres?
Essa é uma pergunta a ser dirigida ao Setor Consular. Entretanto, posso dizer que há ajuda por parte da Embaixada para essas mulheres.
Casos de agressão física devem ser notificados imediatamente à polícia pelo telefone 112, e só então à Embaixada. Está publicada na página da Embaixada a Cartilha da mulher vítima da violência, com telefones dos centros de apoio e acolhimento.
Informamos a comunidade da existência da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, que é um serviço ofertado pela SPM com o objetivo de receber denúncias ou relatos de violência e de orientar as mulheres sobre seus direitos e sobre a legislação vigente, encaminhando-as para os serviços quando necessário. Este serviço, que é disponibilizado no Brasil, encontra-se agora também a disposição das brasileiras residentes na Noruega.
Basta ligar para 80019550 discar 1 e informar o número 61- 3799.0180. A ligação é a cobrar. Isto é, o destinatário da ligação no Brasil, ou o serviço 180, que pagará a ligação. A ligação para o número 80019550 é gratuita também (mais informações no link acima).
BT: Você tem alguma história para contar sobre deportações de Brasileiros? Lembro de alguém numa das reuniões contar sobre brasileiras que chegam no aeroporto e não tem endereço, trabalho e são deportadas…
Lembro que quando eu trabalhava na Embaixada de Portugal, algumas vezes, noruegueses ligavam para a embaixada dizendo que a namorada brasileira, que viria visitá-lo na Noruega, fez voo com conexão em Lisboa e foi deportada. Naquela época, havia muitos casos de brasileiras que se prostituíam em Portugal e por essa razão estavam barrando a entrada delas na Europa quando estavam viajando sozinhas.
E ai, o que acharam?
Adorei as dicas da Silvia, aprender o idioma e se manter aberta a cultura local é realmente muito importante! Além disso o trabalho dela é muito interessante, não é mesmo?
E vocês, o que acharam? Não deixem de contar nos comentários!!!
Beijos da So! Vejo vocês na nossa próxima viagem!
Muito obrigada pelos elogios à Silvia. 🙏🙏😍😍
Que história legal! Moro na Noruega há 3 anos. Meu sonho é trabalhar na Embaixada!
SOU VERA TAMBEM DENTISTA.
Top! Vou comprar o livro da Sílvia para ler!