Olá, amados, tudo bem? Depois do nosso último artigo sobre home office, ou trabalho remoto, fui pesquisar mais sobre o tema, e encontrei um dado muuuito triste do nosso Brasil: no ano passado, 576,6 mil brasileiros precisaram recorrer às concessões de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez devido a problemas emocionais relacionados a estresse. Esse é o recorde desde 2006, que foi o ano em que os casos começaram a ser contabilizados.
O que isso tem a ver com trabalho remoto? Muita coisa! Váaarios estudos feitos já demonstraram que o trabalho remoto durante a pandemia tem causado vários problemas, como desmotivação e bournout.
Por ser algo muito importante, e, infelizmente, ainda não temos uma perspectiva de voltar totalmente ao normal, vamos ter mais um artigo sobre o tema. Desta vez, conversei com a Malena, uma jornalista que trabalha conosco aqui no BT.
Além de trabalhar comigo no BT, a Malena também é mestranda na Universidade Federal de Santa Catarina e desenvolve outros dois projetos. Ou seja, tem uma rotina de trabalho beeeem atribulada. Como nos conhecemos há anos e somos amigas, sei que ela já fazia trabalho remoto antes, inclusive aqui para o site, mas que, mesmo assim, a pandemia bagunçou sua rotina. Por isso, conversamos sobre as adaptações que ela está fazendo para melhorar o rendimento nesse tempo, e também como está se organizando para dar conta de tudo.
Bora ler sobre a rotina dela com trabalho remoto?
BT: Quanto tempo você já está fazendo trabalho remoto?
Malena: Eu já trabalho de forma remota desde 2018, quando saí do meu último emprego presencial. Só que, na minha experiência, existia um trabalho remoto antes da pandemia e um agora.
Eu subestimei bastante, achei “ah, já estou acostumada a trabalhar de casa, então essa parte da minha vida não vai mudar.” Que engano! Depois de um tempo, percebi que ia interferir sim, e muito nas minhas atividades.
Acontece que antes, apesar de trabalhar remotamente, eu ainda via colegas de trabalho. Uma ou duas vezes por semana nós nos encontrávamos, conversávamos sobre os projetos, tiramos dúvidas, ou apenas tomávamos um café para dar umas risadas. Também tinha a universidade, que é um ambiente que eu amo.
Ou seja, mesmo trabalhando de forma remota, eu estava sempre em contato com várias pessoas, discutindo ideias… As pessoas têm uma visão que um trabalho como o meu, que é escrever, requere isolamento. Eu concordo, só que só em partes. É bom se isolar quando você precisa realmente focar para revisar um texto, escrever um artigo. Só que o trabalho de quem escreve não começa quando você abre o arquivo e começa a digitar. É algo bem mais amplo, bem antes disso Você precisa ter inspiração, ideias… Conversar com pessoas e conhecer lugares ajuda, e muito, a ser mais criativo. Às vezes uma conversa boba com um amigo te ajuda a resolver aquele parágrafo que você não conseguia desenvolver… hehehe
Ou seja, depois de um tempo, senti o impacto. Já não estava produzindo tanto no trabalho remoto, e nem com a mesma qualidade de antes. Mesmo tomando litros de café e passando horas sentada na frente do computador, não rendia. Eu estava cada vez mais estressada!
Foi quando eu vi que tinha que fazer mudanças na minha rotina, e acabou sendo uma mudança de estilo de vida.
BT: Quais foram essas mudanças? O que você fez para voltar a ter foco no trabalho remoto?
Malena: São mudanças que ainda estou implementando, ainda não cheguei lá, mas já sinto uma melhora. É um processo, nem sempre linear.
Mas, de cara, vi que minha ansiedade e estresse eram meus piores inimigos. Então coloquei ordem na casa. Percebi que estava assumindo mais atividades do que poderia, que não estava dormindo direito, sempre tensa… Foi quando eu pensei “É claro que estou desmotivada! Estou morta de cansada”. Vi que tinha que mudar.
Comecei terapia e a primeira coisa que a psicóloga me falou foi “seu tempo de descanso é o melhor amigo do seu trabalho”. Parece contraditório, mas não é. Para trabalhar bem nós precisamos estar saudáveis, descansados, felizes.
A primeira coisa que fiz foi definir horários. Parei de atender ligações de trabalho depois das 20h, apenas se fosse algo extremamente urgente. De noite é o horário que vou ler, relaxar, dormir cedo pra acordar bem e render no próximo dia.
Eu estava com um problema muito sério: sempre que ficava atolada de tarefas, acabava entrando em pânico, querendo terminar tudo no mesmo dia… No final não dava conta de nada direito, mesmo virando a noite acordada com litros de café e energético. Cheguei a ter crises de pânico mesmo.
Óbvio, isso impactava na minha saúde. E, a longo prazo, prejudicava ainda mais meu trabalho. É claro que às vezes somos obrigados a trabalhar até tarde e ficamos sem tempo de fazer nossas coisas, não tem jeito. Mas isso não pode virar rotina.
Estou tentando priorizar meu descanso. Dormir cedo, me alimentar bem, passar um tempo com meus cachorros, que eu amo. Beber menos café, preferir um chá. Nos dias que consigo seguir essa rotina sinto que tudo flui melhor, e acabo sendo mais produtiva. Vale a pena.
BT: Você tem uma rotina para o trabalho remoto?
Malena: Estou tentando, ao máximo, implementar uma rotina para trabalhar remotamente.
Por que digo tentando: pois ainda estou me adaptando. Eu estava meeega perdida e ansiosa!
Sou uma pessoa consideravelmente organizada, gosto de colocar as coisas no papel. Quando vi que minha rotina estava bagunçada, que o trabalho não estava rendendo e que eu estava procrastinando demais, peguei um caderno e escrevi TUDO que eu deveria fazer todos os dias, com horários. Não as tarefas do trabalho, mas TUDO do meu dia mesmo.
Por exemplo, tenho dois cachorros peludos e um pouco de mania com a limpeza da casa, uma combinação no mínimo interessante heheheh. Nessa lista que fiz, a primeira coisa que consta é “passar aspirador na sala”. Porque? Pois sei que se estiver vendo o chão sujo vou ficar incomodada e querer sair da frente do computador pra limpar. Para virginianas como eu, esse é um grande perigo do trabalho remoto.
Por isso, acordo, faço café, passo aspirador, tomo um banho e só então vou trabalhar. Elimino antes todas as coisas que seriam distração. A lista pode parecer até um pouco ridícula, pois eu coloco nela coisas como “parar para almoçar”. Mas me ajudou muito. Parei de almoçar só às 15h da tarde, já morrendo de fome.
Enquanto os dias vão se passando, vejo o que funciona e o que não funciona e vou adaptando. É claro que não consigo seguir todos os dias, mas ter um “norte” ajuda e muito.
BT: Qual a dica para fazer funcionar o trabalho remoto?
Malena: São várias.
A primeira, que já falei, é tirar tempo pra descansar. No trabalho remoto isso é mais difícil, pois você não muda de ambiente, né? Então acaba virando tudo a mesma coisa.
Tente definir horários. Não trabalhe durante a noite ou nos fins de semana a não ser que seja extremamente necessário.
Outra coisa que me ajuda bastante é definir apenas um local da casa para trabalhar, não ficar pulando do sofá, pra cama, pra mesa de jantar…. Tente ter um cantinho SÓ para trabalho, com uma cadeira confortável, limpo e organizado…
Hoje em dia, quando eu sento nesse meu cantinho meu cérebro já entra no modo de trabalho. Ele sabe o que precisa fazer ali, não vou ficar “caçando” alguma outra coisa pra fazer.
Também é bom se manter em contato com pessoas. Ligue para um amigo, faça uma chamada de vídeo… Isso ajuda nossa cabeça a funcionar melhor.
BT: Você trabalha por metas ou tem horário para cumprir?
Malena: Oficialmente por metas, mas estou tentando implementar um horário para mim mesma.
Eu defini que quero trabalhar das 8h às 18h, com pausa pra almoço, como se estivesse em uma empresa. Esse é o horário que tenho para fazer minhas atividades. Se sobrar tempo, vou adiantando as do dia seguinte… Se faltar e puder ser deixada para amanhã, vou descansar e ela será a primeira coisa a fazer no dia seguinte.
Mas acontece que estou às vésperas da minha qualificação de mestrado, então sei que esse horário, das 8h às 18h, não vai ser realista para os próximos dias. Porém, é uma melhoria que quero implementar na minha rotina de trabalho remoto assim que possível.
Sei que vai ser um período MUITO estressante, então estou cuidando muito do que eu como, dos meus horários de descanso, na medida do possível, e da minha saúde emocional.
BT: Qual o segredo para não procrastinar no trabalho remoto?
Malena: O segredo é que quase todo mundo, pelo menos alguma vez na vida, vai procrastinar algo…hehehe
Li um estudo muito interessante, que falava que a procrastinação é um mecanismo de defesa do cérebro. Quando uma atividade é muito estressante, nossa cabeça inconscientemente nos obriga a “dar um tempo” para relaxar e então conseguir fazer as coisas com mais foco e atenção.
Acontece que se você procrastina todos os dias, obviamente terá problemas gigantes….
Sei que estou batendo muito na tecla do descanso e lazer, mas é porque vivi isso nos últimos meses, fiz terapia, li muito sobre o assunto, e descobri que era nisso que eu estava pecando. E eu me sentia culpada. Como vou descansar se tenho mil coisas pra fazer?
“Spoiler”: vai descansar sim, pois isso vai te ajudar a viver e trabalhar melhor. Um cérebro estressado é um cérebro que procrastina mais do que o normal.
Outra coisa é eliminar distrações, né? Eu procrastino muito limpando a casa. Sabe quando aquele texto tá difícil ou a leitura que você precisa fazer não é muito boa?? Eu ia lá limpar o banheiro…
Por isso, a primeira coisa do meu dia é organizar a casa. Pra eu não ter desculpa de sair e me distrair depois de sentar pra trabalhar.
Além disso, a técnica pomodoro me ajuda muito. Funciona assim: você precisa trabalhar 30 minutos com foco total, e aí pode descansar, ver redes sociais, pegar um café, por 05. Depois de uma hora, você ganha 15 minutos. Coloco timer no celular e tudo…
Se a gente sabe “bem, daqui a 30min vou poder ver tal coisa”, fica mais fácil concentrar do que se pensar “não sei que horas vou poder parar de escrever”!
Em síntese, essas coisas têm me ajudado muito a continuar no trabalho remoto! Equilíbrio entre produzir e descanso, tentar cuidar da ansiedade, me manter saudável. Estamos vivendo tempos muuito difíceis. Não é todo dia que consigo manter isso, nem todo dia é produtivo.
Mas é um compromisso com você mesmo. E vai ficando mais fácil, pois você vai conseguindo fazer, aos poucos, e aliviando o stress. Volta a ficar realizado e encontra prazer no trabalho.
Por isso é importante não se culpar pelos dias que não foram tão legais. Tentar melhorar sempre, sempre. Mas aceitar que uma rotina mais saudável e produtiva também é um processo, uma construção. Se comprometer e pensar nisso como um investimento no seu futuro.
Pra finalizar, vou contar a frase de um amigo querido que me marcou muito. Estávamos falando sobre rotinas saudáveis, produtividade, e ele me disse “nos dias que não estou bem, não faço isso pelo meu eu de agora. Faço pelo meu eu do futuro. Pois eu prefiro acreditar que o futuro vai ser maravilhoso”.
Hoje você pode estar desmotivado, sem foco, sem vontade. Pense que você está plantando seu futuro. Esse carinho na visão muda muita coisa.
E aí, o que acharam dessas dicas?
Espero que tenham gostado! E você? Tem alguma dica? Não deixe de contar pra gente nos comentários!
Beijoos! Até o próximo post!